Uma dúvida que muitos profissionais possuem no que se refere ao uso de gps para georreferenciamento é quanto a utilização de receptores do tipo Garmim.
Os poucos profissionais que utilizam este tipo de receptor no georreferenciamento de imóveis rurais o fazem de maneira completamente errada.
Porém, não se preocupe, que neste artigo eu irei mostrar exatamente como que você deve proceder para fazer o levantamento de dados com o uso de receptores do tipo garmim.
Leia o mesmo até o final porque você vai aprender exatamente como proceder.
– O manual técnico de limites e a utilização de gps para georreferenciamento.
Resumo
– O real uso de receptores do tipo Garmim
– Estudos científicos e a acurácia dos dados obtidos com receptores do tipo Garmim
– Qual o procedimento para utilizar-se gps do tipo garmim no georreferenciamento de imóveis rurais?
O manual técnico de limites e confrontações e a utilização de gps para georreferenciamento
O próprio manual técnico de limites e confrontações fala a respeito da utilização do código C/A para o levantamento de dados do tipo P. O mesmo diz que:
“Deve-se utilizar o Posicionamento relativo a partir do código C/A.“
Informando ainda que:
O método contemplado neste tópico refere-se ao posicionamento relativo com a utilização da observável pseudodistância a partir do código C/A e a disponibilidade de coordenadas se dá por meio de pós-processamento.
Neste método também há necessidade de um ou mais receptores ocuparem vértices de coordenadas conhecidas enquanto outro(s) coleta(m) dados dos vértices de interesse. Devido a menor precisão proporcionada pela pseudodistância a partir do código C/A, este método não é adequado para a determinação de coordenadas de vértices situados em limites artificiais, sendo aceito apenas na determinação de limites naturais, desde que se alcance valor de precisão dentro dos padrões estabelecidos na NTGIR 3ª Edição.
Perceba que sim, de acordo com o próprio manual técnico de limites e confrontações, na parte de uso de gps para georreferenciamento, diz que pode-se utilizar receptores do tipo Garmim.
Porém, que deve-se utilizar o método relativo. Além disso, que os receptores do tipo Garmim utilizam a observável pseudodistância.
Caso você não saiba exatamente qual a diferença entre os métodos absoluto e relativo ou tenha outras dúvidas a respeito do uso de gps para georreferenciamento, leia os seguintes artigos:
> Posicionamento pelo GNSS. O guia definitivo!
> Receptor gnss – Os 4 tipos existentes e quando utilizar cada um deles!
> Método RTK: Os 6 tipos existentes e quando utilizar cada um deles!
O real uso de receptores do tipo Garmim
Na realidade, você precisa ter em mente que os receptores do tipo Garmim existem para sanar uma série de aplicações que não necessitem de grande acurácia.
Na realidade, você precisa ter em mente que o grande motivo de existência do código C/A é:
Possibilitar a determinação de coordenadas em tempo real de qualquer local da superfície topográfica!
Para possibilitar isso, a determinação de coordenadas geo-espacializadas em tempo real, receptores do tipo Garmim utilizam:
- O código C/A, que possui um comprimento de onda de aproximadamente 300 M;
- A pseudo-distância;
- As efemérides transmitidas.
Devido a estas características, receptores do tipo Garmim cumprem seu objetivo, contornando a maioria dos obstáculos, conseguindo chegar em locais que os demais sinais não conseguem.
Com isso, possibilitam a determinação de coordenadas em tempo real de qualquer local da superfície topográfica.
Porém, para conseguir cumprir seu objetivo, a acurácia dos dados obtidos com este tipo de receptor precisou ser sacrificada, sendo que a mesma costuma oscilar no entorno dos 2,5 aos 5 metros.
Por causa disso, quando se fala em GPS para georreferenciamento, o mesmo não é exatamente o mais adequado…
O mesmo até que pode ser utilizado, porém, respeitando-se suas características!
Eu digo isso porque a lei do georreferenciamento exige as seguintes acurácias:
- 0,5 metros para pontos do tipo M;
- 3 metros para pontos do tipo p; e
- 7 metro para pontos do tipo V.
Ou seja, os dados brutos obtidos com receptores do tipo Garmim não podem serem utilizados nem mesmo para pontos do tipo P.
Por causa disso, é necessário fazer-se a correção dos diferentes erros inerentes ao posicionamento pelo GNSS, sendo que a mesma melhorará significativamente a acurácia dos dados obtidos.
Estudos científicos e a acurácia dos dados obtidos com receptores do tipo Garmim
No estudo intitulado “ANÁLISE DA PRECISÃO NO POSICIONAMENTO COM UM RECEPTOR GPS DE NAVEGAÇÃO” Franco T. C. R. e outros pesquisadores, obtendo dados com um receptor Garmin GPSMAP 60CSx no posicionamento absoluto, chegaram após utilizarem uma metodologia própria a uma acurácia final na ordem dos 2 metros.
Porém, lembre-se que o manual técnico de limites e confrontações diz que deve-se utilizar o posicionamento relativo e não o posicionamento absoluto.
Ou seja, deve rastrear-se dados com o GPS de navegação ao mesmo tempo que o receptor base rastreia dados de um ponto de coordenadas conhecidas.
Um dos mais interessantes que encontrei foi o denominado:
Produzido por Matsuoka, T. M. e outros pesquisadores.
Os mesmos utilizaram uma metodologia própria analisando os resultados de linhas-base curtas (até 50 km), sendo que utilizaram:
- Como estação base a estação POAL da RBMC;
- Como receptor topográfico o Thales Navigation/ Ashtech, modelo PROMARK II;
- Um receptor eTrex Summit da GARMIN para a coleta dos dados.
Além disso, utilizaram mais 2 aplicativos gratuitos desenvolvidos pelo grupo da Escola Politécnica de Madri. São eles:
- Aplicativo ASYNC;
- Aplicativo GAR2RNX.
Veja abaixo a descrição da metodologia utilizada pelos autores:
O Sistema de Coleta de Dados de Receptor de Navegação (SCDRNav), nome atribuído ao protótipo aqui desenvolvido, é composto por um notebook, um receptor GPS de navegação (eTrex Summit) da GARMIN, cabos de conexão entre receptor e computador e pelo software ASYNC.
O programa ASYNC, previamente instalado no notebook, recebe os dados deste receptor através de sua saída serial e interpreta e armazena os dados brutos recebidos (pseudodistâncias sobre o código C/A e as fases da onda portadora L1) em um arquivo binário. Estes arquivos binários são posteriormente convertidos para o formato RINEX, com o uso do programa GAR2RNX.
Após a coleta dos dados as linhas-base foram processadas com o uso do software GPSurvey versão 2.35A, utilizando as efemérides transmitidas e adotando-se as coordenadas da base POAL referenciadas ao sistema SIRGAS2000.
Com a utilização da metodologia mostrada acima os autores encontraram acurácias que variam de 0,011 m até 0,693 m. O que é bem abaixo dos 3 metros exigidos pela lei do Georreferenciamento para pontos do tipo P.
Qual o procedimento para utilizar-se gps do tipo Garmim no georreferenciamento de imóveis rurais?
Perceba que, conforme mostrado anteriormente, o Código C/A possui características próprias que degradam a acurácia dos dados obtidos com os mesmos.
Além disso, os dados obtidos com este tipo de receptor utilizam a pseudodistância e não a fase da onda portadora, o que torna impossível mesmo com tratamentos avançados a obtenção de acurácias centimétricas.
Ou seja, este comprimento de onda foi desenvolvido no intuito de chegar a locais nos quais os demais comprimentos de onda não chegam, o que tem vantagens e desvantagens.
Isso sem falar que este código também está sujeito a uma série de interferências, sendo que as mesmas devem ser corrigidas.
Desta maneira, a utilização de receptores do tipo Garmim é permitida para o levantamento de dados do tipo P, desde que se obedeça as seguintes regras:
- O rastreamento dos dados deve ser do tipo relativo. Ou seja, deve ser feito de maneira concomitante ao rastreamento de um ponto materializado, de coordenadas conhecidas e ajustadas;
- Os dados devem serem processados em um software de tratamento de dados obtidos pela tecnologia GNSS;
- A interferência causada pelas diferentes fontes de erros inerentes ao posicionamento pelo GNSS deve ser mitigada via utilização das efemérides rápidas ou finais.
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Naturalmente, um problema pelo qual os profissionais podem passar é quanto ao formato de dados. Isso porque faz-se necessária a utilização de um aplicativo especifico, como por exemplo, o GAR2RNX para transformar os dados do formato nativo para o rinex.
Por outro lado, se o profissional já está a campo com um receptor cuja acurácia dos dados obtidos é muito melhor, não faz sentido tentar utilizar receptores do tipo Garmim em pontos do tipo P.
Ou seja, embora a própria legislação vigente diga que é possível a utilização de receptores do tipo Garmim no modo relativo.
A meu ver não tem porque o profissional, tendo um receptor cuja acurácia é muito melhor, utilizar este tipo de receptor no mapeamento de pontos do tipo P.
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É isso por este artigo. Gratidão por você ter lido o mesmo. 🙏
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